#3 / Leia isso antes de colar no próximo rolê
O rolê é, muitas vezes, um escape da rotina. Uma lufada de ar numa semana em que as coisas talvez não tenham dado muito certo. Mas pode também ser uma celebração, seja por uma eventual conquista ou pra compartilhar momentos com aqueles que estão ali com você.
Peço desculpas ao leitor mais atento, mas eu meio que já escrevi isso antes.
Não é de hoje que a atmosfera do rolê me fascina. Sou inclusive constantemente acusado (por mim mesmo) de superestimar esse tema, mas faço questão de escrever sobre aquilo que vejo no dia a dia.
A memória pode até falhar pra alguns, mas por aqui segue fresca. Faz bem pouco tempo que fomos impedidos de ir ao rolê. De uma hora pra outra, não dava mais pra sair nem ver os amigos. Picos tiveram que fechar e todos nós ficamos reféns da pandemia.
Teve quem furou as regras da quarentena desde o dia 1; teve o “bonde da flexibilização”, que se tornou especialista em saúde pública pra avaliar o que podia ou não fazer; teve quem justificasse as escapadas por conta da própria saúde mental; e teve quem procurou e procura até hoje seguir rigorosamente todas as normas de restrição (se eu conheço uns dois, é muito).
A verdade é que o rolê sempre foi um pilar frágil de sustentação da saúde do jovem, e a pandemia veio como um jogo de pega-varetas, que se desmonta com um toque.
Com a vacinação em massa, a esperança de uma tão sonhada volta ao rolê acabou ganhando força. Hoje, boa parte da população se sente mais à vontade pra sair de casa, ainda que os números da pandemia estejam longe do ideal.
Acredito que o papel que o sair de casa tem na nossa vida, seja você rolezeiro ou não, é tão absurdamente importante e pouco documentado que vale a pena se debruçar sobre ele.
Eu saio desde que me dou por gente. Já saí com galera, sozinho, já fiquei sem beber e também dei PTs horríveis; já quebrei celular, caí em cima de portão, fiz juras de amizade a completos estranhos e chorei por causa de amores perdidos. Tudo isso no rolê.
Só que eu nunca, jamais, pensei comigo mesmo: “nossa, acho que já deu de rolê pra mim”.
E eu entendo quem já teve ou tem esse pensamento. Com o tempo, as necessidades de cada um mudam e pode até ser que ele venha pra mim um dia. Só exijo hoje a mesma compreensão pro meu lado.
Sei também que você pode conhecer muito sobre um local e as pessoas que vivem nele analisando sua vida noturna. Tome a minha cidade São Bernardo, por exemplo (ou até mesmo o ABC, dependendo da situação). Tem características do rolê daqui que definem o comportamento de muita gente. É interior sem ser interior, praticamente todo mundo conhece todo mundo, além de um comportamento de manada que determina se tal pico é bom ou não. Não que haja nada de errado com isso!
Mas acima de tudo, são pessoas que existem em comunidade: a comunidade do rolê. É a galera que pergunta “qual é a boa?”, pessoalmente ou em grupo de WhatsApp. Que não para quieta em casa um final de semana, ainda que o bolso implore de joelhos e o banco ligue chorando.
Nas últimas semanas, em meio a uma ou outra saída, me propus a investigar o que é que, afinal, torna um rolê bom ou não. Também contei com a ajuda de muitos parças que indicaram cada um as suas preferências.
O material é valioso e pode servir de pesquisa pra donos de rolê ou pra qualquer interessado sobre o tema.
Eis as minhas hipóteses.
Hipótese 1: O rolê é bom quando se está em boa companhia, seja ela um parça, uma galera ou só você mesmo.
Apontado como o principal argumento pela galera com quem troquei ideia, as pessoas à nossa volta são parte fundamental pra tornar qualquer rolê bom. É claro que existe gente de todo tipo e, pra fazer dar certo, você também precisa estar pra jogo.
Ter ao lado pessoas que você realmente gosta é tão significativo que acontece até do lugar perder um pouco de importância, dependendo da situação.
Mas também é plenamente possível dar rolê sozinho, considerando o local. Eu sei que talvez não seja tão comum assim, mas se o fogo no ** bater ainda dá pra arriscar colar em um pico, pegar um goró e puxar assunto com uns doido. O pior que pode acontecer é que a única companhia seja a sua - que já é a única que você vai carregar contigo pra sempre.
Hipótese 2: O rolê é bom quando toca música boa. Essa noção pode variar dependendo do quão chapado você está.
Alguns podem até concordar sobre qual é o melhor gênero musical pra se ouvir no rolê, mas a real é que cada um vai falar uma coisa. O ideal é que a música que toca faça sentido pro pico em questão, e o público que cola lá acaba comprovando ou refutando isso.
Ao mesmo tempo em que cada um tem seu gosto, é sempre bom não ser tão mente fechada quando se trata de música. É possível que alguém que não ouça funk no dia a dia acabe curtindo um rolê que toque esse som, e o mesmo com techno, hip hop, pop e outros gêneros.
Esse é um dos poucos momentos em que dá pra dizer que o álcool é um aliado. Se você estiver suficientemente bêbado e não for capaz de dar uma dançada de acordo com a música, cuidado: o maluco pode ser você.

Hipótese 3: O rolê é bom quando o ambiente me deixa à vontade pra ser quem eu sou.
A principal diferença entre a vida noturna e o nosso dia a dia é que a noite é mais propícia pra você ser quem você realmente é. Geralmente a gente deixa os problemas do trampo de lado, se veste mais como quer e sai de casa com uma só coisa em mente: se divertir.
Há demandas em relação ao ambiente que vão mais de cada um. Tem gente que curte pico lotado, tem quem precisa de lugar pra sentar, ou até mesmo pra acender um negócio diferenciado. Mas aqui também há consensos: o atendimento tem que ser de qualidade, a limpeza precisa estar em dia e o espaço precisa oferecer respeito e segurança pra todos.
Seja na rua ou dentro de um pico daora, o rolê que proporciona um ambiente livre e gostoso geralmente fideliza sua clientela, porque é simplesmente bom estar lá.
Hipótese 4: O rolê é bom quando se adequa ao bolso do rolezeiro.
Pode até ser semana de pagamento, a gente querer luxar um pouco e a conta do banco ainda mostrar mais de 3 dígitos, mas ninguém merece pagar 15 reais numa long neck, não é mesmo?
O preço das coisas é um dos principais diferenciais de um rolê, ainda que não seja o único. Dito isso, drink caro não significa que ele esteja bem preparado, do mesmo jeito que bebida barata não é motivo pra ela ser feita porcamente.
Um bom rolê é aquele que entende a realidade financeira do seu público e consegue ofertar bons produtos pra ele, de forma que o próprio rolê também se sustente.
Hipótese 5: O rolê bom começa no horário certo. E não tem hora pra acabar.
Certa vez, ao questionar um amigo sobre em qual horário um determinado rolê começava, ele prontamente devolveu: “na hora certa”.
Grosserias à parte, sempre fui do bonde dos levemente atrasados (até quando a house party é na minha casa é capaz de eu me atrasar), e de forma alguma me vanglorio disso, mas há também alguns consensos quando se fala em horário. Muito cedo não dá, e tem que haver um tempo de carência pra que todos cheguem tranquilo.
O que eu me recuso a responder até hoje é o “que horas você pretende ir embora?”. Eu não sei, nem nunca vou saber antes de estar lá. Vai chegar um momento do rolê em que eu vou olhar em volta e pensar hm, tá, acho que deu. E claro que se o rolê estiver bom, ele vai naturalmente se estender até mais tarde. Mas não tem hora certa pra acabar não.
Muitas vezes, com apenas uma dessas hipóteses preenchidas, um rolê já se torna suficientemente bom. Mas é claro que se você conseguir gabaritar com todas, a patifaria é garantida.
Tweet da semana
Da Ana, leitora da newsletter, que tem outra sugestão pra reagir além do cropped:
QUAL É A BOA?
Uma curadoria de recomendações culturais com o Toque de Luvas
Rolê: bar, rolê, pista de skate, espaço de arte, hamburgueria e lojinha, tudo no mesmo lugar. O Galppão é o pico pra quem respeita a cultura do skate e curte tomar uma ouvindo um som sincero (é bem provável que você me encontre lá, dependendo do dia);
Documentário: Kanye West é um artista que dispensa apresentações, mas você conhece a trajetória do homem? jeen-yuhs é uma série documental cujo 1º episódio acabou de sair na Netflix e retrata a intimidade e a carreira do Kanye;
Artigo: esse texto da revista Jacobin reflete sobre o motivo de tantos jovens se identificarem hoje com o socialismo: a economia simplesmente está os deixando para trás;
Newsletter: Desinteressante é uma newsletter que faz perfis incríveis com histórias reais de pessoas, anônimas ou famosas, de autoria do amigo e jornalista Marcos Candido;
Música: pra quem curte techno, o som novo do Fravots, 1211;
e aproveita pra seguir também o Unboxing de Marmita, uma série de vídeos também do Fravots avaliando as principais marmitas do ABC - quem não rir é maluco);
Jogo: se você ainda não se rendeu à mais nova febre, passou da hora de testar os games online de preencher palavra, como o term.ooo, Wordle e Letreco;
Show: lembra que na última newsletter eu comentei sobre os festivais de música que marcaram nossa adolescência? O Drop Music Festival rola em março e vai trazer o Hevo (!), Hateen e um cover do Blink-182. Dependendo do quão emo você for, também tem as datas da nova turnê da Fresno pelo Brasil.