Salve! Cara, qual não foi a minha surpresa quando um simples meme ecoou um grito entalado na garganta da galera: “foda-se São Bernardo” pode até parecer uma expressão um pouco dura, mas ao mesmo tempo que é um xingamento, também é um afago pra quem é daqui. Explico melhor.
Há quase um ano, eu quis contar umas histórias pessoais e também homenagear esta cidade no meu livro, “Salve, São Bernardo”. Levantei a bola daqui porque vejo muito valor em como o lugar onde a gente cresce transforma as nossas vidas, e vice-versa.
Mas elogios à parte, tem uma pá de coisa que irrita nessa cidade. A ponto de fazer a gente perder o carinho às vezes.
E aqui não tem essa de “São Bernardo: ame-o ou deixe-o”, a gente bate no que tem que bater e assopra quando é preciso. Afinal, só queremos melhorar o nosso espaço.
A minha humilde sugestão sobre isso é: também ame odiar São Bernardo. Com algumas exceções, as paradas que a gente odeia daqui chegam até a ser engraçadas.
Dito isso, resolvi trazer uma lista de 21 coisas que eu e outros colegas dividimos em ódio por São Bernardo. Se você tiver algo pra adicionar, fique à vontade: compartilha esse texto e lasca o pau sem dó. Mas só se você for local, viu: caso contrário, a gente vai te cobrar.
21 coisas que odiamos em São Bernardo:
Não tem metrô (nem nunca vai ter, e a culpa é do PSDB);
o transporte público em geral, que além de ser caro e ter pouca linha, mandaram pintar de azul por causa do partido do prefeito e ficou DA MESMA COR que as linhas intermunicipais;
o próprio prefeito;
trombar com sacola dos outros na Marechal em véspera de feriado;
a reforma do Paço, que arrancou as árvores que tinham e agora pra ajudar ainda meteram um prédio espelhado horroroso no meio;
a passarela do centro, que ninguém sobe porque é perigoso (e a gente acaba atravessando na rua e fora da faixa, o que é mais perigoso ainda);
o trânsito na Lucas;
o trânsito na Lions;
o trânsito, em geral;
quando surge um rolê e a gente só vai nele, fica um ano colando SÓ nele, pra depois reclamar que “nossa, mas só colam as mesmas pessoas aqui”, e então todo mundo para de ir junto;
trombar gente que não gosto e ter que cumprimentar;
quando só tocam as mesmas músicas no mesmo rolê e não atualizam a playlist;
como tudo fecha cedo e no começo da noite já não tem ninguém na rua;
os cinemas que só passam filme dublado (custa passar nas 2 versões?);
o condomínio Domo (não pretendo elaborar);
quando cai a luz da rua e do bairro inteiro (não precisa nem chover pra isso acontecer);
quando faz sol durante a semana e começa a chover justo na sexta (ou quando todos os climas acontecem no mesmo dia, também conhecido como As 4 Estações);
que nunca tem emprego aqui, tem que ir pra São Paulo pra ter;
que ultimamente o Uber tá dando caro demais (é meio que em todo lugar, mas aqui é palhaçada);
o Bem Barato que inaugurou na Pereira Barreto, que simplesmente tesouraram toda a área verde que tinha lá e daria um bom parque;
a falta de segurança generalizada.
Um salve de agradecimento
Antes de seguir pra próxima história, queria agradecer rapidão a todos que deram um salve após o lançamento da newsletter. Eu disse que esse seria um espaço pra trocar ideia sem grandes pretensões e minha tese levantada na 1ª edição acabou se comprovando: falei muito sobre o poder da comunidade e essa resolveu aparecer.
Dentre as coisas que me falaram, compartilho: como não é todo mundo que tem o hábito de ler, toda tentativa é bem-vinda; disseram pra eu tacar mais o foda-se e entrar melhor na linguagem do público (o título dessa news já é um aceno a isso, às vezes nossa formação deixa o texto um pouco truncado, hehe); e uma amiga que sugeriu até uma “sessão que fim levou” com celebridades do ABC. Vou guardar essa na manga.
Agora já somos mais de 50 leitores do Toque de Luvas. Bora fazer chegar a 100? É só pegar o link e mandar pra um parça seu que pode curtir. Ajuda nois, po!
Conexão ABC-Las Vegas
Se o emo não morreu, ele deve pelo menos ter infartado quando viu há algumas semanas o lineup do festival When We Were Young (“quando éramos jovens”), que vai rolar em Las Vegas, nos Estados Unidos.
A lista de bandas que vão tocar mais parece o que você encontraria num aparelho mp3 de qualquer jovem em 2005.
Programado pra outubro deste ano, o festival teve tanto sucesso em seu anúncio que teve que soltar uma data extra, e mesmo assim todos os ingressos já estão esgotados.
Além de fazer relembrar das próprias bandas do festival, esse evento resgatou uma memória muito forte pra mim e também pra outros jovens do ABC: os saudosos festivais que rolavam na região durante nossa adolescência.
Bandas como Strike, Forfun e Fresno são só algumas das que eram presença garantida nesses eventos, como o ABC Pro HC.
Tinha banda boa, outras nem tanto, uns emos, outras mais hardcore, mas isso pouco importa. O que pegava é que, naquela época, eu era apenas um jovem querendo viver umas paradas pela primeira vez, e esses rolês eram espaços onde isso acontecia.
O primeiro show que colei na vida foi um desses. O headliner era o Gloria, enquanto o resto do lineup tinha bandas como Fake Number, Replace e Hardneja Sertacore (quem conhece, sabe).
Em outro desses shows, que rolou no saudoso Espaço Lux em São Bernardo, experimentei um goró batizado de Charmander, que era o nome que se dá quando alguém acende o isqueiro dentro da bebida, toma tudo e depois bafora o álcool. Jamais esqueci esse: na segunda dose, já quase botei toda a Stock azul ingerida pra fora.
E você, se lembra de colar em algum desses festivais? Quais eram as suas bandas preferidas dessa época? Se fosse hoje, colaria num show desses de novo? To jogando a ideia porque né, vai que alguém resolve fazer a conexão ABC-Las Vegas e lançar o mesmo por aqui.
A única salvação para os NFTs
Todo ano surge uma pá de tecnologia nova e é difícil acompanhar em tempo real tudo que tá pegando. Algumas dessas paradas são realmente relevantes, mas tem outras que são completamente inúteis. Uma das mais faladas ultimamente é o tal do NFT.
Se você já sabe o que é isso, pode pular esse parágrafo. NFT é a sigla pra non-fungible token (token não-fungível). Apesar do nome horroroso, um NFT pode ser resumido assim: ele é um item colecionável digital, único e “original”. Uma galera tem usado a tecnologia pra comprar umas paradas como arte e itens de videogame. Mas é como se você comprasse um tênis que só existe uma unidade e ninguém mais vai ter, só que ao mesmo tempo jamais pudesse colocá-lo no pé (a definição detalhadinha de NFT tá aqui, se você quiser se aprofundar).
Mas o que impede alguém, por exemplo, de tirar um print da imagem, no caso de uma arte digital? Se fizer isso você não tem, essencialmente, a mesma coisa que o dono da NFT? Então, meio que sim kkkkkkkkk. O que o proprietário vai ter de diferente é essa espécie de “documento” dizendo que o original é dele. Então tá, né.
Mas por que caralhos ainda assim o NFT faz sentido pra algumas pessoas?
Olha, é aquela velha história: todo dia, um malandro e um otário saem de casa. Eu já gastei dinheiro com muita coisa besta na vida, então não me surpreende tanto que tem gente que tope pagar uma nota num NFT. Mas do mesmo jeito que tu tem a liberdade de comprar, a gente tem a liberdade de zuar.
Agora, se você ainda não foi convencido pelo encanto e a magia de um NFT, eu tenho a grande sugestão que vai mudar esse mercado por completo.
Talvez você já tenha visto um vídeo por aí de um doidão que comprou um NFT de uma parada e mandou imprimir.
Ficou parecendo um tazo, daqueles que brilham quando você mexe. Mas é justamente isso que eu acharia maneiro ter: um souvenir bobo de uma parada digital. Essa é a grande pivotada que os vendedores de NFT tem que dar.
Mas pera lá também, eu nasci pobre mas não nasci otário. Por mais que eu e uma galera ainda fosse tonto o bastante pra comprar isso, eu jogaria aí um teto máximo de uns 20 reais pra ter a lembrancinha.
Com esse valor, seria plenamente possível contratar um serviço para imprimir o bagulho em boa qualidade, plastificar o artefato e decorar o ambiente de casa, seja um belo tweet ou qualquer outra parada que antes só existia na internet. Se não for pra ter ele desse jeito, aí eu fico com um print screen simples mesmo, sem ter que pagar nada.
Pessoalmente, eu queria muito o NFT desse tweet aqui:
Imagem da semana
Se o ABC tem algo de cyberpunk eu não sei, mas que ficou maneiro esse retrato que a jornalista e amiga Bruna Penilhas fez de um cartaz gigante do jogo Halo em Santo André, ficou. Com certeza deixou a nossa região com uma carinha um pouco mais futurista e menos decadente.
QUAL É A BOA?
Uma curadoria de recomendações culturais com o Toque de Luvas
o Mahalo, um pico recém-inaugurado em São Bernardo com várias opções de comida e drinks, além de um espaço aberto bem gostoso e que achei perfeito pra um domingo à tarde;
a série documental na Netflix “Midnight Asia”, que apresenta metrópoles asiáticas como Tóquio, Seul e Bangkok por meio da vida noturna dessas cidades;
o podcast Segunda Mão, que analisa filmes pop dos anos 2000 com um “olhar de agora” (tem episódios sobre obras como Donnie Darko e 500 dias com ela;
esse episódio do podcast Café da Manhã sobre a relação entre juventude e política, com vários achados interessantes de uma pesquisa com dados da América Latina;
para o fã de indie: esse vídeo especial do Dominic Fike (músico e ator que interpreta o rapaz Elliot, na série Euphoria), interpretando uma música muito bonita chamada Açaí Bowl;
para o fã de eletrônica: a playlist Daft Punk Teacher’s, com mais de 100 horas (!!!!!) de referências que ajudaram a moldar o Daft Punk;
esse texto-manifesto sobre a resistência preta no movimento emo.
E aí mané, chegou até aqui e não vai dar uma compartilhada? Que isso hein, senta o dedo aí po. Tamo junto e até a próxima edição!
20 conto pra fazer um tazo gigante eu acho um pouco utópico demais hein hauahaya mas uma.coisa é certa
Devemos alcancar o norvana